MONUMENTO EM (DES)HONRA DO MPLA

O Memorial à Batalha do Cuito Cuanavale, na província do Cuando Cubango, é actualmente o maior e o mais bem preservado monumento desta região sul do país, na avaliação das autoridades administrativas locais.

Esta avaliação foi confirmada recentemente pelo director do gabinete da Cultura, Turismo, Juventude e Desportos do Cuando Cubango, José Eduardo Ezequias, em entrevista à Angop, no âmbito das comemorações do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios (DIMS), assinalado a 18 de Abril.

Segundo José Ezequias, desde que foi inaugurado, há oito anos, o Memorial constitui, para a província do Cuando Cubango, a referência dos 41 monumentos e sítios existentes na região, pela sua histórica importância, em Angola e na África Austral.

Disse ser um parque temático da responsabilidade central das Forças Armadas Angolanas (FAA), integrando a zona do Sá Maria, o casco urbano da vila do Cuito Cuanavale e o Aeroporto 23 de Março, em homenagem aos seus heróis, entre outras áreas.

Ou, seja, é um vasto mosaico de cenários atractivos que tem conhecido um crescimento constante no afluxo de visitas de turistas nacionais e estrangeiros, prometendo transformar a vila do Cuito Cuanavale numa das sedes do turismo no país.

As curiosidades sobre a Batalha do Cuito Cuanavale, decorrida de 1987 a 1988, continuam a atrair para a infra-estrutura erguida em memória dos seus heróis movimentos consideráveis de visitantes de vários países da região e de Cuba (cujos soldados são endeusados pelo MPLA), aproximando-se das oito mil vistas por ano.

O director José Eduardo Ezequias explicou que, pela sua importância, hoje a Batalha do Cuito Cuanavale, que este ano assinalou o seu 36º aniversário, para os angolanos, e o sexto para a África Austral, está em estudo para que o seu memorial seja elevado a Património da Humanidade.

Depois do Memorial à Batalha do Cuito Cuanavale, indicou, seguem-se as ruínas do Senje, no município do Cuchi, propriamente na Missão Católica, em referência, na época colonial, à formação de muitos quadros locais que hoje dão o seu contributo na arena provincial e nacional.

Destaca-se também as Cadeias da Repressão Colonial do Missombo, comuna do município de Menongue, uma referência na história recente da luta armada de libertação nacional, tendo recebido presos políticos, a par do Forte Mwene Vunongue, igualmente, símbolo da luta de resistência ao colonialismo português.

O Museu Etnográfico de Menongue figura, igualmente, como um dos principais monumentos da região, actualmente em estudo para ser transformado em “Centro de Informação Turística”, a par do tanque sul-africano, deixado na batalha do Cuito Cuanavale pelas forças do então regime do apartheid. Durante a batalha também lá ficou armamento pesado russo, manobrado por cubanos, caso dos MIG-21. Mas esses não interessa ao MPLA mostrar.

Conforme José Eduardo Ezequias, estes e outros monumentos e sítios encontram-se em fase de catalogação para que o gabinete tenha uma base de dados mais completa, acrescentando que está ainda em curso um processo similar para algumas aldeias mais antigas existentes na região.

José Eduardo Ezequias defendeu ser necessária a contínua conservação dos monumentos e sítios identificados, por preservarem a história dos seus nomes, facto que tem despertado o interesse dos turistas para se inteirar do seu estado actual.

Para o efeito, o director convidou os habitantes da província a visitar regularmente os monumentos e sítios existentes, com destaque para o Memorial à Batalha do Cuito Cuanavale, as Cadeias de Repressão Colonial do Missombo, o Forte Mwene Vunongue, entre outros que conformam o Cuando Cubango.

A efeméride do 18 de Abril, no Cuando Cubango, foi assinalada como de reflexão sobre a conservação dos monumentos e sítios existentes na região, bem como a sua contínua transformação em locais de interesse turístico, para um retorno financeiro a favor das comunidades circunvizinhas.

O Dia Internacional dos Monumentos e Sítios assinala-se, anualmente, a 18 de Abril, data instituída pelo Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS), em 1982, antes do seu reconhecimento pela UNESCO, no ano seguinte, durante a sua 22ª Conferência Geral.

O objectivo é destacar a importância dos monumentos e sítios na história e na identidade dos vários povos, bem como apelar para a sua preservação e valorização.

O tema escolhido para 2024 “Catástrofes e conflitos à luz da Carta de Veneza”, que convida a reflectir sobre o património cultural partilhado, que emana desta convenção internacional, e que papel ainda desempenha na actualidade.

A Carta de Veneza foi adoptada, em 1964, duas décadas após a Segunda Guerra Mundial, numa época que prometia progresso e desenvolvimento económico ilimitados.

Seis décadas depois, o mundo enfrenta uma emergência climática, um número crescente de catástrofes naturais e conflitos, o que leva à destruição de locais culturais e à deslocação em massa de populações.

E A MINHOCA DIZ QUE FOI… JIBÓIA

O MPLA, partido presidido pelo general João Lourenço, mantém-se firme na mentira sobre a Batalha do Cuíto Cuanavale: “A vitória das FAPLA, tutelada pelo Governo angolano, criou as condições para a independência da Namíbia, libertação de Nelson Mandela e a abolição do regime do Apartheid na África do Sul”.

Deixemos a propaganda do MPLA e vejamos a realidade factual e histórica. A Batalha do Cuíto Cuanavale ocorreu numa situação em que se estava já a negociar, quer a retirada das tropas cubanas de Angola, quer a retirada das tropas sul-africanas de Angola e da Namíbia. Essa Batalha foi uma resposta da UNITA à ofensiva do MPLA contra Mavinga, que tinha como objectivo principal a tomada da Jamba. A Batalha do Cuíto Cuanavale não existiu sozinha. Para se ter uma ideia concreta do que na realidade se passou, vejamos a cronologia dos acontecimentos dessa época:

ABRIL 1987 – Com operações de baixa intensidade, começa a “ofensiva Lomba 87”, conhecida por “Operacion Saludando Octubre” entre os cubanos.

3-4 MAIO 1987 – Representantes de Angola, Cuba e África do Sul reuniram-se no Hotel Brown de Londres, sob a mediação dos Estados Unidos da América.

24-25 JUNHO 1987 – Verificou-se uma ronda de negociações entre Angola e a África do Sul, no Cairo (Egipto).

11-12 JULHO 1987 – Angola, Cuba e África do Sul acordaram que a Resolução 435/78 da ONU seria implementada após a retirada das tropas sul-africanas de Angola, o que era uma grande concessão por parte da África do Sul.

12 JULHO 1987 – Início da movimentação das Brigadas 16ª, 21ª, 47ª e 59ª das FAPLA (Forças Armadas do MPLA), com mais de 20 mil homens, para a ofensiva militar às áreas então ocupadas pela UNITA no Cuando Cubango, naquilo que o movimento do Galo Negro denominou como tendo sido a “Batalha Lomba 87” e os cubanos chamaram “Operação Saludando Octubre.”

21-22 JULHO 1987 – Reunião de emergência entre Angola e África do Sul, em Cabo Verde, devido a um ataque feito pela África do Sul à SWAPO, no início da segunda quinzena de Julho. Nessas negociações de Cabo Verde, a África do Sul propôs a retirada completa das suas tropas de Angola em simultâneo com a movimentação para norte das forças cubanas.

AGOSTO 1987 – O Presidente José Eduardo dos Santos propõe aos americanos o prazo de dois anos para a retirada das tropas cubanas presentes no Sul de Angola contra o anterior prazo de três anos apresentado em 1984. Em contrapartida, exigiu uma data para o início da aplicação da Resolução 435/78, o fim do apoio militar americano à UNITA e a manutenção das tropas cubanas estacionadas no Norte de Angola.

SETEMBRO 1987 – Combates encarniçados na área do Rio Lomba que enfraqueceram a capacidade ofensiva das forças do MPLA (FAPLA).

11 OUTUBRO 1987 – Destruição da 47ª Bragada das FAPLA e início do fim da ofensiva a Mavinga e à Jamba. Com a destruição da 47ª Brigada, numa verdadeira inflexão da situação militar, Luanda ordenou o regresso das forças restantes para o Cuíto Cuanavale. O tenente coronel soviético Zhdarkin escreveu no seu diário que “a derrota esmagadora da 47ª Brigada afectou seriamente a 16ª, 21ª e 59ª Brigadas, assim como a situação militar como um todo.”

12 OUTUBRO 1987 – A UNITA inicia a perseguição às tropas das brigadas FAPLA e das forças cubanas, e empurrando-as até às proximidades do Cuíto Cuanavale, tendo-se travado violentos combates.

28 OUTUBRO 1987 – A UNITA captura os pilotos Ramón Quesada Aguilar e Manuel Rojas Garcia quando iam bombardear as áreas sob ocupação da UNITA. No seu livro publicado posteriormente, o piloto cubano Rojas Garcia descreveu as dificuldades sofridas pelas FAPLA nesta ofensiva e as circunstâncias da destruição da 47ª Brigada.

OUTUBRO 1987 – MARÇO 1988 – Continuação dos ataques da UNITA, apoiadas pelas forças sul-africanas, ao Cuíto Cuanavale e aos arredores desta cidade com a finalidade de desgastar ao máximo as tropas do governo angolano que anualmente lançavam ofensivas visando a ocupação de Mavinga que na estratégia do Governo de Angola, serviria de plataforma para o assalto à Jamba.

NOVEMBRO 1987 – Perante a eminência de uma derrota militar completa e sem que da parte dos soviéticos houvesse uma maneira airosa de se sair dessa situação, José Eduardo dos Santos pediu ajuda militar urgente ao Presidente Fidel Castro. El Comandante, que precisava de encontrar uma maneira de entrar com mais força nas negociações que iriam implicar a retirada das suas tropas, viu nesse pedido uma oportunidade de ouro. Sob o nome de código “Manobra XXXI Aniversário”, Fidel Castro entrou com toda a força. Os primeiros destacamentos de blindados e de artilharia cubanos foram enviados para o Cuíto a partir de Menongue e avançaram os 200 quilómetros sob cobertura dos MiG 21 e dos MiG 23. Outra medida decisiva foi a de enviar desde Cuba os melhores pilotos de MiG-23 em voos directos de Ilyushin Il-62M. Os MiG-23ML do Tenente Coronel Armando González “El Guajiro” concentraram-se em Menongue e actuaram desde esta base aérea, juntamente com os MiG-21. Outro esquadrão completo de MiG-23ML foi enviado de Cuba no navio “Las Coloradas”. A primeira tarefa dos MiG-23ML, foi cobrir o recuo das FAPLA até Cuíto Cuanavale. Algumas fontes avaliam em pelo menos 15.000 a quantidade de tropas cubanas no teatro do Cuíto Cuanavale, de Novembro de 1987 a Março de 1988.

13-14 JANEIRO 1988 – 21ª Brigada apoiada pelas Forças cubanas sofre uma derrota pesada.

29 JANEIRO 1988 – O Subsecretário de Estado norte-americano, Chester Crocker, acompanhado de peritos americanos, encontrou-se em Luanda com as autoridades angolanas, tendo os americanos aceite a presença de uma delegação cubana chefiada por Jorge Risquet descrito como tendo tido uma atitude “não obstrucionista”. Os EUA aceitaram a presença de Cuba nas negociações com Angola e com a África do Sul, porque acharam que assim se conseguiriam mais avanços. Os americanos acharam também que Castro precisava de uma saída honrosa da sua intervenção em Angola, por isso deveria ser parte das negociações.

MARÇO 1988 – A 23 de Março ocorre a Batalha do Tumpo que acabou num impasse. Depois disso, as forças sul-africanas abandonaram o teatro do Cuíto Cuanavale.

3 MAIO 1988 – O jornal espanhol La Vanguardia anunciou o início, em Londres, de negociações entre os Estados Unidos, Cuba, África do Sul e Angola, sobre como resolver a situação prevalecente em Angola e na Namíbia. Na realidade, para Cuba e para a África do Sul, as negociações tinham começado 3 anos antes.

13 DEZEMBRO 1988 – Foi assinado um acordo, denominado Protocolo de Brazzaville: recomendava-se ao Secretário-Geral das Nações Unidas, a data de 1 de Abril de 1989, como sendo a do início da implementação da Resolução 435 e os Acordos foram assinados a 22 de Dezembro de 1988, em dois documentos diferentes: um entre Angola e Cuba e o outro entre a África do Sul e Angola. Por esses Acordos, Angola e Cuba comprometeram-se a cumprir os termos da saída das tropas cubanas de Angola, as quais deveriam ser retiradas até 1 de Julho de 1991, tal como tinha sido discutido; a África do Sul e Angola comprometeram-se a cumprir os termos da implementação da Resolução 435/78, tal como acordado nas negociações que levariam à independência do Sudoeste Africano, em 1990.

DEZEMBRO 1989 – Início da “ofensiva Último Assalto” pelas FAPLA com o apoio soviético, a partir do Cuíto Cuanavale. O objectivo era, uma vez mais, tomar Mavinga e depois a Jamba. Essa ofensiva não teve sucesso. A 6 de Maio de 1990, as FAPLA iniciaram o seu regresso ao Cuíto Cuanavale.

Com esta realidade conclui-se que:

1. A batalha do Cuíto Cuanavale foi parte da contra-ofensiva da UNITA à ofensiva mal sucedida do MPLA para tomar Mavinga e a Jamba;

2. As negociações para a retirada cubana de Angola e a retirada sul-africana de Angola e da Namíbia começaram vários meses antes do desfecho da Batalha do Cuíto Cuanavale;

3. O Cuíto Cuanavale não foi a última batalha dessa fase da guerra. Sem a presença de cubanos e de sul-africanos, os irmãos angolanos ainda se defrontaram no “Último Assalto”, 18 meses depois do Cuíto Cuanavale.

Em resumo, se houve vencedores, não foram as forças do MPLA e os seus aliados. Então o que comemora o MPLA? Nada a não ser o que a sua propaganda inventa, tentando fazer com que uma mentira dita mil vezes passe a ser verdade. Mas não terá sucesso. Minhoca nunca será jibóia.

Folha 8 com Angop

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